quinta-feira, 31 de julho de 2014

O bom filho à casa torna



Felipão é a cara do Grêmio.

Daquele Grêmio multicampeão que conheci em minha infância, na década de 90.

Se tem alguém que conhece o estilo de jogar do Grêmio, esse alguém é Luis Felipe Scolari.

Sempre imaginei ele encerrando a carreira de treinador no time que o consagrou para o cenário nacional e mundial.

Se acontecerá isso, não posso prever.

De fato não fez um bom trabalho em sua segunda passagem pela seleção brasileira, com exceção do título da Copa das Confederações.

Ficará marcado pelo resto da vida como o treinador da seleção que tomou 7 a 1 da Alemanha na semifinal da Copa do Mundo em casa.

Mas qualquer resultado negativo não poderá apagar o currículo de Scolari.

Como o próprio disse, ele retorna ao clube do coração em um momento em que precisa de todo o apoio do mundo. E sabe que no Tricolor dos Pampas vai encontrar esse apoio.

E Fábio Koff, presidente das duas Libertadores e Mundial Tricolor, merece uma estátua em frente à Arena.

A estreia de Scolari será logo em um clássico GreNal, no dia 10 de agosto, no Estádio Beira-Rio, local em que Felipão se consagrou inúmeras vezes, seja como zagueiro brucutu do Caxias, ou como treinador.

Se algum gremista disser que não ficou feliz com esse reencontro, certamente estará mentindo.

No fundo, todo torcedor alimenta a esperança de que, se pelo menos não repetir os títulos do passado, certamente poderá ver em campo um time com uma nova alma, a mesma que havia há 18 anos, desde sua última passagem.

Nenhum gremista quer ver o time dando espetáculo, chapéu, toque de letra, nada disso. O futebol-arte nunca fez parte do repertório do Grêmio. O torcedor quer ver aquele time jogando com o regulamento embaixo do braço, onde suas goleadas são elásticos placares de 1 a 0, 2 a 1; jogando em campos esburacados, debaixo de chuva, com muita lama. É esse Grêmio, lutando por títulos e não se entregando facilmente que o torcedor quer ver. Em suma, o Grêmio de Scolari.

Bem-vindo de volta, Felipão!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Atropelo alemão



Uma derrota para a Alemanha em uma semifinal de Copa do Mundo é normal.

Uma derrota por goleada de 7 a 1 da seleção brasileira na semifinal de Copa do Mundo jogando em casa, não.

Antes de analisar o fator psicológico - que novamente pesou em um elenco formado por jovens atletas - é preciso ter consciência que o Brasil teve sérios problemas táticos neste Mundial.

Tanto, que o único jogo em que atuou relativamente bem foi o quinto, nas quartas de final, na vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia. É o preço que se paga por descansar muito e treinar pouco, em um torneio de tiro curto.

O primeiro gol alemão na semifinal, marcado por Thomas Müller, escancarou as falhas defensivas, por ter ficado livre na grande área para chutar, após cobrança de escanteio.

O que se viu a partir daí foi um total desequilíbrio. Quatro gols em seis minutos.

Miroslav Klose (artilheiro absoluto das Copas com 16 gols, passando Ronaldo), Toni Kross duas vezes e Khedira. No segundo tempo Schürrle marcou mais duas vezes e Oscar descontou, fazendo o gol de honra brasileiro.

Em cem anos a seleção brasileira sofre sua pior derrota da história.

E pelas circunstâncias que foi o placar, nem se Thiago Silva e Neymar estivessem em campo, conseguiriam resolver algo. Talvez a goleada fosse menor, mas ao mesmo tempo inevitável.

O desastre parecia questão de tempo, e ele poderia ter ocorrido já nas oitavas, contra o Chile, quando o Brasil teve mais sorte que juízo com a bola de Pinilla no travessão nos últimos minutos da prorrogação.

Formada por um elenco jovem, a maioria dos atletas que defenderam a seleção brasileira neste ano, terá plenas condições de voltar a uma Copa em 2018, na Rússia. Alguns nomes serão substituídos, é verdade. Mas a base está formada.

Uma derrota como essa dói, machuca o torcedor, mas também serve para ensinar muito ao futebol brasileiro e ao país como um todo. As conquistas não vêm por acaso, é preciso esforço e dedicação. Não dá para ser aos trancos e barrancos, no tal "jeitinho brasileiro". Serve para o torcedor e a mídia pacheca ter consciência de que futebol é momento e o Brasil não tem o melhor futebol coletivo em todos os momentos. Nem todo grande time tem craques, nem todos os craques formam um grande time.

Apontar os culpados parece fácil. Todos perdem. Jogadores, comissão técnica, dirigentes. Mas fazer isso nesse momento é injusto. Pegamos como exemplo o goleiro Barbosa, da Copa de 50, que jamais foi perdoado pela torcida pelos dois gols que sofreu diante dos uruguaios.

Aqui cabe um parêntese para a CBF, que trocou o técnico Mano Menezes em um momento que ele parecia  ter encontrado uma fórmula de jogo ideal, por Luiz Felipe Scolari, campeão em 2002, multicampeão com Grêmio e Palmeiras, mas que não procurou se renovar. E o futebol muda a todo instante.

O objetivo da CBF era claro: após perder as Olimpíadas de 2012, Mano Menezes perdera também o pouco de prestígio que tinha, e o presidente da entidade, José Maria Marin, tentando lavar suas mãos, trouxe um nome de grande carisma, e caso o título mundial não viesse, como de fato não veio, não seria por falta  de um nome de peso.

Conquistou a Copa das Confederações, numa ótima exibição contra a Espanha na final, e isso fez com que o time vivesse uma ilusão.

A Copa das Confederações é tão parâmetro para a Copa do Mundo, como os estaduais são para o Campeonato Brasileiro. Ou seja, nenhum. E o Brasil ganhou as últimas três, caindo consequentemente nas últimas três Copas antes da final.

Não é por causa dessa derrota que precisa-se repensar o futebol brasileiro. Ele carece desa análise há muito tempo. Desde a base, o campeonato interno, seus dirigentes, a filosofia ultrapassada de seus treinadores, etc.

O Brasil segue sendo, entre os principais campeões mundiais, o único que não sabe o que é vencer em casa. A Espanha também não sabe, mas sediou até hoje apenas uma Copa. Essa foi a segunda no Brasil.

E que ótima Copa estamos tendo dentro de campo. A lamentar somente a queda do viaduto em Belo Horizonte, que matou duas pessoas e deixou outras tantas feridas.

Agora é juntar os cacos, e conseguir forças para disputar o terceiro lugar, contra o perdedor de Holanda x Argentina, sábado (12), às 17h, em Brasília.

Nem no chamado Maracanazo, como ficou conhecida a derrota de 2 a 1 para o Uruguai, no Maracanã em 1950, o vexame foi tão grande. Pois aquela era uma derrota possível e compreensível. 

Aliás, passa-se a Copa e o Brasil fica sem jogar no principal estádio do país. Parabéns a quem fez a tabela da Copa.

Pena que ela está acabando.