quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A máscara finalmente caiu

Momento da batida de Piquet no GP de Cingapura 2008


O que muitos suspeitavam, foi comprovado nesta quinta-feira. A estranha batida de Nelsinho Piquet ocorrida durante o GP de Cingapura de 2008, foi mesmo proposital. Tudo não passou de um jogo de estratégia da equipe Renault, para favorecer o piloto nº 1, o espanhol Fernando Alonso, que havia parado nos boxes para a troca de pneus e reabastecimento, exatamente uma volta antes da batida.


O acidente ocorreu num ponto ideal para a interdição da prova. O brasileiro, ex-piloto da Renault, saiu de lado em uma curva, e acertou de traseira o muro da reta oposta do circuito de rua. O Safety Car (Carro de Segurança) precisou entrar, devido à posição perigosa em que ficou o veículo de Piquet na pista. Com isso, todos os pilotos que estavam à frente de Alonso, foram obrigados a parar nos boxes, para reabastecer e trocar pneus, beneficiando o piloto espanhol, que acabou ficando com a vitória.


Foi essa também a famosa corrida da confusão da mangueira de combustível ocorrida no carro de Felipe Massa, da Ferrari, e que pode ter custado o título do ferrarista, hoje se recuperando de um grave acidente sofrido durante os treinos do GP da Hungria.


A bombástica revelação que mexerá por muito tempo no circo da Fórmula 1 foi feita pelo próprio Nelsinho Piquet, através de uma carta entregue junto à FIA (Federação Internacional de Automobilismo), onde detalha todo o esquema encabeçado pelos dois chefões da equipe francesa: Pat Symonds e Flavio Briatore, que além de diretor da Renault, ainda é empresário de Nelsinho.


Jamais foi visto algo parecido assim na história da categoria mais importante do automobilismo mundial. É claro que sempre houve jogo de equipe; do segundo piloto ceder a posição ao primeiro. O caso mais famoso foi o de Rubens Barrichello, a poucos metros da linha de chegada, frear e dar a vitória a Michael Schumacher, no GP da Áustria, em 2002. Houve também várias batidas propositais para se ganhar um título, mas a maioria entre rivais de diferentes equipes.


Como no GP do Japão de 1989, em que Prost fechou a porta para Ayrton Senna, e o francês acabou ficando com o tricampeonato. No ano seguinte, Senna deu o troco, logo na largada do mesmo GP do Japão, tirando o pé do freio na primeira curva e juntando a ferrari de Prost, saindo os dois da prova e Senna, por ter a vantagem, garantiu o Bi. Schumacher foi campeão assim em 1994, ao bater em Damon Hill, porém tentou repetir a dose em 1997, mas se deu mal com Jacques Villeneuve.


Mas jamais havia sido noticiado de uma equipe ordenar um piloto a bater de propósito para favorecer o outro piloto da casa. Pior do que isso é saber que existem pilotos que aceitam cometer tal atitude inaceitável, como foi o caso de Nelsinho. Não há inocentes nessa história e todos devem ser punidos, no mínimo com a exclusão do esporte. Fora as multas por danos morais que deveriam ser pagas, e muito caras. Várias pessoas foram envolvidas nesse esquema, nessa atitude irresponsável. Lamentavelmente a F1 virou uma terra sem lei, onde começam a fazer tudo o que bem entendem. Cabe às autoridades competentes, tomar as atitudes cabíveis para que isso não se repita.


No final de setembro, a FIA irá julgar o caso. Ao que parece, pelo fato fato de ter revelado o ocorrido, não deverá sobrar punição a Nelsinho, mas ele nem precisaria, pois acabou se autodestruindo. Dificilmente alguma equipe séria irá querer um piloto que se vende barato em seu time. Agora resta saber, se essa autodestruição realmente foi apenas por um ato de vingança por ter sido demitido. Algo me diz que não...


Confira abaixo a carta, na íntegra, enviada por Nelsinho Piquet à FIA e revelada pelo site inglês "F1SA":


"Eu, Nelson Ângelo Piquet, nascido em 25 de julho de 1985 em Heidelberg, Alemanha, morando atualmente em Mônaco, disse o que segue:


1 - Salvo prova em contrário, os fatos e declarações contidas neste depoimento são baseadas em fatos e assuntos de meu conhecimento. Acredito que os fatos e declarações contidos neste depoimento são verdadeiros e corretos. Sempre que quaisquer fatos ou declarações não estiverem dentro de meu próprio conhecimento, eles serão verdadeiros ao melhor de meu conhecimento e crença e, se este for o caso, indico a fonte deste conhecimento e desta crença.

2 - Faço esta declaração voluntariamente à FIA, a fim de permitir que ela exerça suas funções de supervisão e regulamentação no que diz respeito ao Mundial de Fórmula 1.


3 - Estou ciente de que existe um acordo entre os participantes do Mundial de F-1 e todos os titulares tem sua superlicença para assegurar a justiça e a legitimidade do campeonato, e estou ciente das consequências caso forneça à FIA informações falsas ou enganosas.


4 - Entendo que a minha declaração completa foi gravada áudio e que uma transcrição completa será disponibilizada para mim e para a FIA. O documento constitui um resumo dos principais pontos abordados durante minha declaração verbal.


5 - Gostaria de trazer os seguintes fatos ao conhecimento da FIA.


6 - Durante o GP de Cingapura, realizado no dia 28 de setembro de 2008, fui convidado pelo Sr. Flavio Briatore, que é tanto meu 'manager' quanto diretor da equipe Renault, e pelo Sr. Pat Symonds, diretor técnico da mesma equipe, a bater deliberadamente meu carro, a fim de influenciar positivamente o desempenho da Renault no evento em questão. Concordei com esta proposta e conduzi meu carro para acertar o muro, provocando um acidente entre as voltas 13 e 14.


7 - A proposta de provocar deliberadamente um acidente me foi feita pouco antes da corrida, quando fui convocado pelo Sr. Briatore e pelo Sr. Symonds no escritório do Sr. Briatore. O Sr. Symonds, na presença do Sr. Briatore, perguntou se eu estaria disposto a sacrificar minha corrida pela equipe por um safety car. Todo piloto sabe que o safety car entra na pista quando há um acidente que a bloqueia ou joga detritos, ou quando há um carro parado onde é difícil resgatá-lo, como foi o caso.


8 - No momento da conversa, estava em um estado mental e emocional muito frágil. Este estado de espírito foi provocado pelo estresse intenso causado pelo fato de que o Sr. Briatore se recusou a informar da existência da renovação de meu contrato de piloto para 2009, como habitualmente ocorre no meio da temporada (entre julho ou agosto). Ao contrário, o Sr. Briatore repetidamente pediu-me para assinar uma "opção", o que significava que eu não estava autorizado a negociar com outras equipes no mesmo período. Ele repetidamente me colocou sob pressão para prolongar a opção que tinha assinado, e iria me chamar regularmente em seu escritório para discutir a renovação, mesmo em dia de corrida - um momento que deveria ser apenas para concentração e relaxamento. Este esforço foi acentuado pelo fato de que, durante o GP de Cingapura, tinha me classificado em 16º no grid, então estava muito inseguro sobre meu futuro na Renault. Quando me pediram para bater o carro e provocar a entrada do 'safety car' a fim de ajudar a equipe, aceitei porque esperava que pudesse melhorar minha posição na equipe neste momento crítico da temporada. Em nenhum momento fui informado por qualquer pessoa que, ao concordar em provocar um incidente, eu teria garantido a renovação de meu contrato ou qualquer outra vantagem. No entanto, no contexto, pensei que seria útil para alcançar este objetivo. Por isso, concordei em provocar o incidente.


9- Após a reunião com o Sr. Briatore e o Sr. Symonds, o Sr. Symonds me puxou para um canto tranquilo e, usando um mapa, apontou-me para a curva exata da pista onde eu deveria bater. Esta curva foi escolhida porque aquele local específico não possui guindastes que permitiriam que um carro danificado pudesse ser rapidamente removido da pista, nem possui entradas laterais, o que permitiria que um fiscal pudesse empurrar rapidamente o carro para fora dela. Assim, considerou-se que um acidente neste lugar específico seria quase certo de provocar uma obstrução da pista e que, portanto, seria necessária a entrada do safety car a fim de permitir que a pista fosse limpa e para assegurar a continuidade da corrida.


10 - O Sr. Symonds também me disse em que volta exata, eu deveria provocar o incidente, de modo a proporcionar a meu companheiro de equipe, o Sr. Fernando Alonso, uma boa estratégia, já que ele faria seu reabastecimento pouco antes da entrada do safety car, durante a 12ª volta. A chave para a estratégia reside no fato de que o conhecimento de que o safety car entraria na pista entre as voltas 13 e 14 permitiu que a equipe fizesse no carro do Sr. Alonso uma estratégia agressiva de combustível, suficiente para chegar a 12 voltas, mas não muito mais. Isso permitiria que o Sr. Alonso ultrapassasse o máximo de carros possível, sabendo que os carros teriam dificuldade em recuperar o tempo perdido depois do pit stop devido à implantação posterior do safety car. A estratégia foi bem sucedida e o Sr. Alonso venceu o GP de Cingapura de F-1 de 2008.


11 - Durante as discussões, não foi feita qualquer menção de quaisquer preocupações no que diz respeito à segurança desta estratégia para mim, para os espectadores ou para os outros pilotos. O único comentário feito neste contexto foi realizado pelo Sr. Pat Symonds, que me alertou para "ter cuidado", dizendo que não deveria me ferir.


12 - Intencionalmente causei o acidente, deixando o carro sair lateralmente pouco antes da curva. A fim de me certificar que eu provocaria o acidente durante a volta certa, perguntei para a minha equipe por diversas vezes, através do rádio, para confirmar o número da volta, algo que não faria normalmente. Não me feri no acidente, nem ninguém.


13 - Após as discussões com o Sr. Briatore e o Sr. Symonds a "estratégia do acidente" nunca foi discutida novamente. O Sr. Briatore discretamente disse "obrigado" após o final da corrida, sem falar mais nada. Não sei se alguém tinha conhecimento da estratégia no início da corrida.


14 - Após a corrida, informei ao Sr. Felipe Vargas, amigo da família, o fato de que o acidente tinha sido intencional. O Sr. Vargas ainda informou meu pai, o Sr. Nelson Piquet, algum tempo depois.


15 - Depois da corrida, vários jornalistas perguntaram sobre o acidente e me questionaram se eu havia feito de propósito, porque sentiram que era "suspeito".


16 - Na minha equipe, o engenheiro do carro questionou a natureza do incidente, porque achou incomum, e respondi que tinha perdido o controle do carro. Acredito que um engenheiro inteligente notaria que os dados de telemetria indicariam que o acidente foi causado de propósito, já que continuei acelerando, enquanto que o "normal" seria frear o mais rapidamente possível.


Declaração de Verdade


Acredito e juro que os fatos citados nesta declaração são verdadeiros.


Este depoimento foi feito na sede da FIA em Paris, no dia 30 de julho de 2009, na presença do Sr. Alan Donnelly (chefe dos comissários da FIA), Sr. Martin Smith e Sr. Jacob Marsh (ambos investigadores da empresa Quest, mantidos pela FIA para ajudar na investigação). As notas foram tomadas pela Sra. Dondnique Costesec (Sidley Austin LLP).


Assinado:


Nelson Piquet Jr."
Foto: Divulgação

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